Um cenário preocupante se desenha para os 41 milhões de brasileiros que possuem planos de saúde empresariais, já que os valores das mensalidades podem sofrer um reajuste de aproximadamente 25% neste ano. Os dados alarmantes são da consultoria AON, que analisou os custos dos insumos médicos em 113 países durante o ano de 2023. O resultado revela que a inflação médica no Brasil foi três vezes maior do que a inflação oficial, medida pelo IPCA.

Enquanto a inflação oficial fechou em 4,8%, os custos médicos atingiram a marca de 14,1%. Essa diferença expressiva tem impacto direto nos planos de saúde, refletindo um aumento que pode afetar significativamente o bolso dos segurados.

A advogada Nycolle Araújo Soares, especialista em Direito da Saúde, destaca que o aumento está relacionado ao aumento do uso dos planos de saúde, especialmente em casos de tratamentos prolongados, terapias intensivas e tratamentos inovadores, que tendem a ser mais caros.

O levantamento da AON identificou que casos de câncer, problemas cardiovasculares e hipertensão são os principais responsáveis pelo aumento dos custos das operadoras de planos de saúde. A Agência Nacional de Saúde (ANS) reportou que as operadoras fecharam o terceiro trimestre de 2023 com um resultado operacional negativo acumulado no ano de R$ 6,3 bilhões.

A pandemia de Covid-19 também continua impactando os preços, mas segundo Nycolle Araujo Soares, os planos de saúde atribuem o aumento a tratamentos incluídos nos últimos anos, como as terapias utilizadas para pessoas no espectro autista.

Uma questão que preocupa os segurados é a falta de regulamentação nos planos de saúde empresariais. Enquanto a ANS regula os planos familiares e individuais, os planos coletivos não têm limites de reajuste anual, ficando a critério de cada operadora. O empresário paulistano Daniel Donizete viu o plano de saúde de sua família, que inclui esposa, duas filhas e os pais idosos, ser reajustado em 22%, tornando o valor praticamente inviável.

A advogada Arina Estela da Silva, especialista em planos de saúde, esclarece que, apesar da falta de regulamentação, existem regras que precisam ser cumpridas e que os consumidores podem recorrer à justiça caso haja descumprimento dessas regras.

Em 2023, a ANS registrou 378.220 protocolos de consultas sobre portabilidade, um aumento significativo em relação a 2022. O cancelamento injustificado dos planos e as reclamações têm crescido nos últimos tempos, levando os consumidores a buscar alternativas mais acessíveis ou com uma melhor rede prestadora de serviços.

A situação se agrava com o cancelamento sem motivo justificado, especialmente entre os pacientes oncológicos, autistas e aqueles que dependem de cuidados contínuos. A advogada Thayana Carrara destaca que muitos planos têm descumprido determinações legais e decisões judiciais, resultando em um aumento expressivo de processos judiciais nesse contexto. O receio é que essa tendência continue a crescer, impactando negativamente os beneficiários de planos de saúde em todo o país.