A presença da deputada federal Carla Zambelli em território italiano reacendeu debates políticos, jurídicos e diplomáticos entre Brasil e Itália. Condenada no Brasil a mais de dez anos de prisão por crimes ligados a invasão de sistemas e falsidade ideológica, a parlamentar bolsonarista, agora foragida, passou a ser alvo de intenso monitoramento por autoridades internacionais. A situação complica-se ainda mais pelo fato de Zambelli possuir dupla cidadania, o que traz implicações diretas no processo de extradição.

A controvérsia ganhou projeção na Itália, com parlamentares exigindo ações rápidas do governo italiano. O argumento central gira em torno da possibilidade de o país europeu ser usado como “porto seguro” por uma figura pública condenada em seu país de origem. A mobilização envolve os ministérios da Justiça, Relações Exteriores e Interior da Itália, que vêm sendo pressionados a dar uma resposta concreta sobre a permanência de Zambelli em solo europeu.

Do ponto de vista jurídico, a extradição de cidadãos com dupla nacionalidade não é proibida na legislação italiana, desde que os crimes atribuídos ao indivíduo não sejam considerados políticos — o que não é o caso de Zambelli. Os crimes pelos quais ela foi condenada são classificados como comuns, o que fortalece a hipótese de extradição, caso o Brasil formalize o pedido e haja concordância dos tribunais italianos.

A Polícia Internacional (Interpol) já incluiu o nome da deputada na lista vermelha, o que autoriza a prisão em qualquer país-membro. No entanto, a execução dessa medida depende da localização exata da parlamentar. Se ela estiver em uma propriedade privada, por exemplo, é necessário um mandado judicial para que a prisão seja efetivada.

Internamente, a Itália discute a possibilidade de mudanças em sua própria legislação. Alguns parlamentares propuseram que a cidadania italiana possa ser revogada em casos de crimes graves cometidos por cidadãos com dupla nacionalidade. Essa medida, se aprovada, poderia abrir caminho para a expulsão de Zambelli, mesmo que ela possua vínculos legais com o país.

A fuga da deputada ganhou contornos cinematográficos. Após deixar o Brasil, ela passou pela Argentina e pelos Estados Unidos, até chegar à Itália, onde agora busca apoio político e legal para evitar o cumprimento da pena imposta pelo Supremo Tribunal Federal. Para o governo brasileiro, o caso envolve não apenas a responsabilização de uma figura pública, mas também o respeito à soberania do Judiciário nacional e à cooperação internacional em matéria penal.

Enquanto a decisão italiana não é anunciada, o caso de Carla Zambelli levanta questões profundas sobre impunidade, cidadania múltipla e os limites da diplomacia frente a crimes cometidos por representantes eleitos. A tensão diplomática está instalada, e o desfecho ainda é incerto — mas com potencial para gerar precedentes no tratamento de foragidos internacionais de alta notoriedade.