Em uma cerimônia marcada pela reverência à tradição e à história luso-
brasileira, três brasileiros foram agraciados com a Imperial Ordem da Rosa —
uma das mais antigas e simbólicas honrarias da monarquia brasileira. A
solenidade ocorreu na Capela Quinhentista do Senhor de Pancas, nos
arredores de Lisboa, e foi presidida por Dom Bertrand de Orleans e Bragança,
Chefe da Casa Imperial do Brasil e Grão-Mestre da Ordem.

Foram investidos no grau de Cavaleiro os advogados brasilienses Ronald Bicca
e Ibsen Noronha, e o médico gaúcho Fernando Abreu e Silva. Também
recebeu a comenda, no grau de Grã-Cruz, o Infante Dom Dinis de Bragança,
Duque do Porto. A cerimônia contou com a presença de representantes das
famílias reais do Brasil e de Portugal, incluindo a Duquesa de Bragança, o
Príncipe da Beira, o Príncipe Imperial do Brasil e a Princesa Dona Maria
Gabriela.

A investidura dos brasileiros simboliza o reconhecimento de trajetórias
marcadas por ética, serviço público e compromisso com os valores
preservados pela Casa Imperial. A condecoração foi recebida com emoção e
gratidão pelos homenageados. O evento teve início na noite da quarta-feira
(7/5) e se estendeu ao longo da semana com almoços e jantares em
homenagem aos convidados de honra.

Ronald Bicca, advogado sócio do Escritório Demóstenes Torres, é ex-
procurador-geral do estado de Goiás e ex-presidente da Associação Nacional
dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (Anape).

Questionado sobre o significado pessoal da honraria, Ronald Bicca expressou
profunda alegria em receber tamanho reconhecimento. “Foi uma honra
inesperada. Fiquei surpreso, especialmente por saber do critério rígido e raro
para a concessão da Ordem da Rosa, que, aliás, é uma das mais cobiçadas do
mundo.”

Ele destacou ainda a importância da lealdade em sua trajetória. “Atribuo o
recebimento dessa comenda à lealdade ao Chefe da Casa Imperial do Brasil
por décadas. Não esperava honra por isso, mas foi um reconhecimento a
critério do Chefe da Casa Imperial. Me sinto profundamente grato.”

Ao comentar a relevância da honraria, Ronald Bicca destacou o valor simbólico
e histórico da condecoração: “Receber a Imperial Ordem da Rosa, no século
XXI, tem um valor simbólico expressivo, especialmente por sermos os
primeiros brasileiros, em décadas, a receber a condecoração, e os únicos
ainda vivos! É uma honra compartilhá-la com o advogado e professor da
Universidade de Coimbra, dr. Ibsen Noronha.”

Bicca ressalta que a homenagem não se fundamenta em saudosismo, mas no
reconhecimento de uma trajetória que contribuiu para a construção da
identidade brasileira. “A permanência dessa tradição, mantida com seriedade
pela Casa Imperial, representa um gesto de respeito e gratidão aos que se
dedicam ao serviço público com ética e compromisso. É, sobretudo, uma
reafirmação de valores fundamentais, como integridade, lealdade e
responsabilidade com a história e com o futuro do país.”

O advogado e professor Ibsen Noronha destacou que a Ordem Imperial da
Rosa é uma distinção honorífica das mais tradicionais da história do Brasil.
“Como a honra é o prêmio da virtude, alegra-me o reconhecimento por serviços
prestados a uma causa nobre.”

Já o médico Fernando Abreu e Silva destacou o significado pessoal da
condecoração e sua admiração pela figura que a concedeu. “Vejo como um
reconhecimento de minha vida pessoal e profissional, conferida por um príncipe
sábio, por quem tenho grande admiração e respeito e que considero uma
reserva moral do Brasil. É com humildade e profunda satisfação que a aceito.”

Na noite seguinte, os agraciados foram homenageados em um jantar especial,
reforçando o caráter solene da ocasião. A celebração incluiu ainda uma Missa
em Ação de Graças celebrada pelo Revmo. Pe. Fernando António, sob os
cuidados do mestre de cerimônias Pedro Sameiro e sua esposa, Anita
Sameiro.

Tradição e história em continuidade

A Imperial Ordem da Rosa foi criada por Dom Pedro I em 17 de outubro de
1829 para celebrar seu casamento com Dona Amélia de Leuchtenberg. Desde
então, a comenda se tornou símbolo de distinção concedida a civis e militares
que se destacam pela lealdade ao Império e pelos serviços prestados ao
Estado. Entre os agraciados históricos estão figuras como o Duque de Caxias,
Machado de Assis, Alfred Nobel e Annibale de Gasparis.

A honraria compreende as classes de Grão-Mestre, Grã-Cruz, Grande
Dignitário, Comendador, Oficial e Cavaleiro. A investidura se dá com base no
mérito pessoal do agraciado e no reconhecimento da legitimidade do Grão-
Mestre.

A insígnia da Ordem é composta por uma estrela branca de seis pontas,
guirlanda de rosas, medalhão com as letras “P” e “A” entrelaçadas, e a legenda
“Amor e Fidelidade”.

Embora extinta como ordem nacional pela Constituição de 1891, a Ordem
continua viva como uma ordem dinástica, mantida pela Casa Imperial do Brasil.
Sua permanência representa o compromisso com a preservação da memória e
dos valores que moldaram a história brasileira